Cuidados com idosos requer enfoque multidisciplinar
A população brasileira está envelhecendo. O crescimento da população idosa exige tanto mudanças culturais, visando respeitar e a valorizar o idoso, mas também medidas práticas: trata-se de um grupo que requer cuidados diferenciados com a saúde. Uma abordagem global faz toda diferença no tratamento ao idoso. É importante que o dentista tenha um bom relacionamento com os demais médicos do paciente, porque nem sempre ele [o paciente] vai dizer ao seu dentista se está com o diabetes controlado, por exemplo. E essa é uma informação importante, que pode ter influência no tratamento.
O caminho inverso também é importante. O principal problema bucal que afeta os idosos, a redução do fluxo salivar, é, muitas vezes, efeito colateral do consumo contínuo de remédios receitados pelos demais médicos para controle de hipertensão e diabetes, doenças crônicas comuns na terceira idade. Como consequência dessa redução, ocorre maior incidência de cáries e lesões na mucosa da boca, que sustentam as próteses, levando o paciente a sentir dor. Por causa da dor, o paciente para de usar a prótese e, portanto, deixa de consumir todos os alimentos importantes para uma dieta saudável. Com isso, ele fica mais suscetível às doenças. Também pode acontecer aumento no consumo de certos nutrientes, pois a saliva é importante na limpeza das papilas gustativas, que são responsáveis pelo reconhecimento do sabor dos diferentes alimentos. Pouca saliva significa pouca limpeza nessas papilas e o resultado é que a percepção de sabores como doce ou salgado fica prejudicada e a pessoa idosa passa a temperar mais a comida, podendo exagerar no açúcar ou no sal e tendo problemas no controle de diabetes ou hipertensão.
A Odontologia só descobriu como prevenir cáries e problemas de gengiva na década de 50 do século XX. As pessoas que hoje são idosas não tiveram contato com essas descobertas e chegavam aos 30 anos de idade já com os dentes irremediavelmente danificados ou com dentaduras.O grande problema das próteses é que nem sempre os pacientes cuidam dela. Próteses muito antigas não permitem mastigação eficiente. A mastigação ineficaz impede boa absorção dos nutrientes da dieta, função muito importante para fortalecer a saúde dos idosos. Os médicos pedem para o idoso manter uma dieta balanceada, mas se os dentes ou a prótese não estão bem, a pessoa nã ;o consegue seguir essas orientações.
Além da importância fisiológica, uma boa dentição é importante para o idoso porque garante boa aparência e melhora a fonética. Dentes quebrados influem na passagem do ar, resultando em alterações na fonética e impedindo boa compreensão do que a pessoa quer dizer. Com boa aparência, e fala melhorada, o paciente recupera a auto-estima, se socializa mais, e pode até tentar se reinserir no mercado de trabalho. Essas atividades são importantes para o idoso, que está mais sujeito à depressão, por exemplo.
Não apenas a carência nutricional contribui para as doenças. A saliva tem propriedades antibióticas, capazes de controlar as bactérias que habitam a boca. Essas bactérias podem alimentar os problemas de pulmão do paciente, então a boca e a língua devem estar sempre limpas. Mas nem sempre os profissionais que cuidam do idoso sabem disso. É por isso que o Dentista tem um papel muito importante em compartilhar estas informações e orientações.